O ex-presidente estadunidense Barack Obama escreveu, durante os anos do governo Trump, seu antecessor, a autobiografia “Uma Terra Prometida”, em que o ex-mandatário imprime um tom bem pessoal, fala sobre família, mostra curiosidades sobre a Casa Branca e fala sobre racismo, pauta tão importante nos Estados Unidos mas sobretudo tão discutida pelo fato de ele ter sido o primeiro presidente negro da história do país. É uma leitura deliciosa.
A Companhia das Letras, que publicou o título no Brasil, enviou aos clientes uma lista de curiosidades destacadas do livro. Tomo a liberdade de reproduzir parte delas aqui, porque elas ajudam a contar um pouco da essência da obra e a entender o que foi a presidência de Obama—tão absurdamente oposta à do futuro ex-presidente Trump. Sugiro a leitura do livro para quem está também cansado do (des) governo brasileiro, tão bananamente espelhado no de Trump.
Nenhum problema que aterrissava em ninha escrivaninha, fosse nacional ou internacional, tinha uma solução 100% efetiva e sem efeitos colaterais. Se tivesse, alguèm em algum ponto da cadeia de comando já teria resolvido a questão. Barack Obama, em ‘Uma Terra Prometida’
Escreve a Companhia das Letras: “‘Uma Terra Prometida’ é um relato franco e sincero sobre as responsabilidades da presidência. Independentemente do assunto—crise financeira, sistema de saúde ou um sequestro de piratas somalis—, Obama destaca a importância de ter se cercado de uma equipe competente para tomar as decisões de alto risco. Um desses episódios representativos envolveu um acidente com um caça estadunidense na Líbia, e o então presidente precisou esperar para saber notícias sobre a tripulação: ‘Quando alguém me pede para descrever o que é ser presidente dos Estados Unidos, penso com frequência no tempo que passei sentado naquele jantar solene no Chile, sentindo-me impotente ao contemplar o fio da navalha entre o sucesso visível e uma possível catástrofe—nesse caso, a trajetória do paraquedas sobre um deserto longínquo no meio da noite’“.
Por boa parte dos meus primeiros dois anos de mandato, (Donald) Trump aparentemente foi elogioso à minha presidência. Barack Obama, em ‘Uma Terra Prometida’
“As interações de Obama com Donald Trump, seu sucessor na presidência dos Estados Unidos, não ficam de fora do livro. Obama relembra que Trump disse que um ex-ativista radical era o autor de Sonhos do meu pai, ‘porque o livro era bom demais para ter sido escrito por alguém com meu calibre intelectual‘; e revela que ‘meu contato mais próximo com Trump ocorrera em meados de 2010, durante a crise da Deepwater Horizon, quando ele havia feito uma inesperada ligação para Axe [David M. Axelrod, consultor sênior] sugerindo que eu lhe desse a incumbência de fechar o poço‘. Obama também é muito crítico em relação à Fox News e ressalta que, em termos de ruptura das tradições políticas, não havia muita diferença entre Trump e outros líderes republicanos”.
A verdade é que toda reunião de cúpula internacional segue um padrão. Barack Obama, em ‘Uma Terra Prometida’
“No livro, Obama não apenas recapitula elementos da história americana e mundial, como também examina diversas tradições presidenciais, apresentando pontos de vista surpreendentes sobre a pompa que envolve o cargo. Embora ele sempre tenha imaginado a Sala de Crise como um ‘espaço amplo e futurista‘, descobriu que ‘a realidade era bem menos espetaculosa: apenas uma pequena sala de reuniões, […] tudo que havia nas paredes eram relógios digitais marcando a hora em várias capitais do mundo e algumas TVs de tela plana não maiores do que a de qualquer bar’. Quanto às cúpulas internacionais, ele confessa: ‘Você fica lá sentado, lutando contra a alteração em seu relógio biológico causada pela mudança de fuso horário, se esforçando para parecer interessado, enquanto todos em volta da mesa, e cada um em sua vez, leem comentários cuidadosamente redigidos. […] Mais tarde, já com alguma quilometragem em matéria de cúpulas, eu adotaria as táticas de sobrevivência de participantes mais calejados‘”.
‘Acho que você precisa de um codinome’, declarou Malia. ‘Como Johnny McJohn John’. Barack Obama, em ‘Uma Terra Prometida’
“A relação de Obama com a esposa Michelle e as filhas, Natasha e Malia Ann, é parte fundamental de ‘Uma Terra Prometida’. Com muito bom humor, o ex-presidente narra vários episódios domésticos marcantes e mostra que, em muitos aspectos, eles não são muito diferentes do de outras famílias. Aos sete anos, Malia sugere que o pai usasse um codinome como disfarce, mas quando Michelle fica sabendo disso, diz que ‘o único jeito de o papai se disfarçar é fazer uma operação para prender as orelhas para trás‘. Quando ele ganha o prêmio Nobel da Paz (2009) e conta a Michelle, que já está na cama, ela diz ‘Que maravilha, amor‘, e se vira para voltar a dormir”.
Talvez a melhor mordomia que a Casa Branca nos proporcionou tenha sido a música. Barack Obama, em ‘Uma Terra Prometida’
“Antes de seus debates presidenciais, Obama ouvia Miles Davis, John Coltrane e Frank Sinatra, mas para ele as canções que ‘botavam minha cabeça no lugar‘ eram ‘My 1st Song’, de Jay-Z, e ‘Lose Yourself’ , de Eminem. ‘Ambas eram sobre arriscar tudo para conseguir qualquer coisa que todos consideram impossível‘. Obama também relata que o contato com a música era um dos maiores privilégios do cargo, sobretudo porque diversos artistas—de Stevie Wonder a Jennifer Lopez—se apresentaram na Casa Branca. Ele lembra de ouvir os convidados ensaiando: ‘Eu ficava maravilhado com a maestria com que cada um dominava seus instrumentos, a generosidade que mostravam uns com os outros ao misturarem mente, corpo e espírito, e sentia uma pontada de inveja da alegria pura e inequívoca do seu trabalho, um contraste e tanto com o caminho da política escolhido por mim‘”.
A respeito desse aspecto específico, Obama escreve que “a música sempre desempenhou um papel importante em minha vida — e isso se mostrou especialmente verdadeiro durante minha presidência“.
Em homenagem ao livro, Obama montou uma playlist no Spotify com algumas músicas: “Espero que gostem.” Você pode ouvir aí ao lado ou cessando o link. Já adianto que também vale a pena. Você pode até ouvir enquanto lê o livro!
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