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Writer's pictureGabriel Toueg

Aos 116 anos, morre a pessoa mais velha do mundo

Morreu ontem à noite, em Nova York, a pessoa mais velha do mundo, com 116 anos. Susannah Mushatt Jones nasceu em 1899. Estava perto de completar 117 anos.

Susannah em seu 113º aniversário (foto: AP)

Susannah em seu 113º aniversário (foto: AP)


Imagine tudo que ela viu e viveu: as duas grandes guerras e todas as outras, nascimento e morte de gerações da realeza (e da própria família), inúmeras trocas, assassinatos, suicídios, derrubadas de presidentes, primeiros-ministros, reis e rainhas, terremotos gigantescos, o naufrágio do Titanic, a criação da Liga das Nações, a abertura do Canal do Panamá, o nazismo e o fascismo, epidemias ferozes, surgimento e desaparecimento da União Soviética, construção e derrubada do Muro de Berlim, independência e desaparecimento de nações, 27 olimpíadas (quase alcançou a 28ª) e todas as copas do mundo (foram 20), bombas atômicas e acidentes nucleares, a chegada à Lua, a descoberta da penicilina e o surgimento da aids, e eu poderia ficar escrevendo páginas e páginas de acontecimentos.

Desde que soube da notícia sobre a morte de Susannah, fiquei pensando no que significa viver 116 anos. A pessoa mais velha de que se tem notícia, Jeanne Calment (sempre as mulheres!), morreu em 1997, com mais de 122 anos. Eu tenho menos de um terço dessa idade e não tenho ideia. Mas imagino que, além de presenciar ou assistir a tantos episódios que aconteceram ao seu redor e no mundo, moldando a humanidade que somos hoje, tão diferente daquela que existia quando ela nasceu, deve ser triste viver tanto e ver as pessoas indo embora.

Agora, Emma Morano é a mulher mais velha do mundo (foto: Antonino Di Marco/EPA)

Agora, Emma Morano é a mulher mais velha do mundo (foto: Antonino Di Marco/EPA)


Meu grande amigo e “avô postiço” Nahum Sirotsky, que morreu em novembro com quase 90 anos, lamentava sempre o fato de ter visto tantos amigos partirem. Ele morreu com 26 anos menos que Susannah, deixou um filho e cinco netos (seis, comigo!) Na idade de Susannah, ela poderia ter até enterrado filhos, o que deve ser a mais dolorida das experiências (pelo que eu entendi, mas não investiguei muito, ela não tinha filhos, mas tinha mais de 100 sobrinhos e sobrinhas). Com a morte dela, apenas uma pessoa nascida no século 19 segue viva, Emma Morano, que nasceu na Itália (e lá vive) em 29 de novembro de 1899. Mais de 27 anos antes do Nahum, que nasceu num 19 de dezembro, em 1925. Quando soube da notícia de que se tornara a pessoa mais velha do mundo, ela comentou: “My word, I’m as old as the hills”.

E o segredo da longevidade? Susannah, que morreu aos 116, garantia: sono e bacon. Segundo o USA Today, ela tinha um quadro na cozinha com os dizeres “O bacon faz tudo ficar melhor”. A centenária italiana atribui a longevidade à dieta de ovos (três por dia, seguindo recomendação de um médico quando teve anemia, aos 20 anos) e a um copo diário de brandy. Salute!

Isso tudo também me faz pensar na importância de ouvir as histórias das pessoas mais velhas. Elas certamente têm muito para contar sobre o que viram, o que sentiram, sobre como foi sua infância, sobre como o mundo mudou. Devemos ouvir e, sempre que possível, registrar e contar para os outros. De certa forma, fiz isso com o Nahum ao longo dos mais de treze anos em que convivemos.

Que tenhamos viga longa. Mas que tenhamos todos vida longa!

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