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Writer's pictureGabriel Toueg

Dois argumentos – bem claros – contra o ‘Muslim ban’ de Trump

Vi na internet. Dois argumentos bastante claros e embasados em dados e em números para derrubar a política do presidente estadunidense, Donald Trump, de barrar imigrantes de sete países com maioria muçulmana, que ficou conhecido como Muslim ban. A polêmica medida gerou uma onda de protestos em aeroportos e cidades nos EUA.


Os países incluídos na ordem executiva de Trump são Iêmen, Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão e Síria. Nacionais desses países (inclusive os que tenham dupla nacionalidade) ficaram proibidos de entrar os EUA por um período de 90 dias.

A ordem também suspende o sistema de refugiados do país por 120 dias.

Primeiro argumento: Os motivos de mortes de cidadãos estadunidenses

Essa tabela mostra quantos cidadãos dos EUA morreram anualmente vítimas de diversas razões. Vamos a elas: imigrantes muçulmanos jihadistas: 2*; terroristas de extrema-direita: 5*; todos os terroristas muçulmanos jihadistas (incluindo cidadãos estadunidenses): 9*; bebês armados: 21*; raios: 31*; cortadores de grama: 69*; atropelados por ônibus: 264*; queda da cama: 737*; baleados por outro estadunidense: 11.737*. Não é preciso ser um gênio para entender que Trump deveria estar investindo tempo e recursos para prevenir outro tipo de ameaça – real – contra os cidadãos de seu país (ironicamente, as políticas dele de controle de armas não são invejáveis para lidar com esses dados).

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*Explicando os números (fontes nos links acima):

  1. os 3 primeiros itens referem-se a ataques com vítimas desde o 11 de Setembro (veja mais abaixo um quadro que inclui os dados dos ataques de 2001)

  2. bebês armados são definidos como menores de três anos que acidentalmente dispararam armas carregadas, matando outras pessoas ou a si mesmos

  3. mortes por raios são a média de 10 anos segundo dados da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)

  4. os dados de mortes causadas por cortadores de grama, atropelamento por ônibus e queda da cama referem-se à média de 10 anos, segundo o levantamento “Underlying Cause of Death”, de 2014, dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC)

  5. baleados por outros estadunidenses são uma média dos 10 anos entre 2005 e 2014, segundo o estudo “Injury Prevention & Control: Data & Statistics (WISWARS)” dos CDC

Segundo argumento: As vítimas e de onde vieram seus algozes

Segundo esse gráfico, 3.004 cidadãos estadunidenses foram mortos, entre 1975 e 2015, por terroristas de países muçulmanos. Ironicamente, não há registros de mortos por nacionais de nenhum dos países incluídos no Muslim ban – todas os mortos foram vítimas de ataques perpretados por terroristas da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Líbano (e nenhum desses países está incluído na ordem de Trump). Isso não significa que esses quatro países devam ser incluídos na lista – só mostra que o argumento do presidente para justificar a ordem é vazio. E que há interesses diversos envolvidos, como a relação promíscua entre EUA e Arábia Saudita, para citar apenas um.

É verdade que esse gráfico não mostra as fontes dos números, mas considerando o número de mortos nos ataques do 11 de Setembro (2.996) e a procedência dos terroristas (19 homens ligados à al-Qaeda, dos quais 15 eram sauditas, 2 emiradenses, 1 egípcio e 1 libanês), a conta fecha.

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Argumento bônus: A falsidade do argumento do terrorismo, exposta na TV

A apresentadora da CNN Poppy Harlow entrevistou o ex-assessor sênior e porta-voz da campanha de Trump Jack Kingston sobre os efeitos do Muslim ban em parar o terrorismo – principal argumento do presidente para justificar a ordem. Na entrevista, Kingston diz que os 7 países não são exatamente conhecidos por amar os EUA. Então a âncora o interrompe e pergunta: “E a Rússia?” O ex-congressista escapa de responder.

Poppy, então, mostra a dificuldade de um refugiado sírio, como um exemplo, para ser aceito nos EUA – uma maratona de checagens e burocracias. Ela então dispara:

“Congressista, você pode nomear um só ataque terrorista neste país que tenha sido executado por um refugiado sírio?”

O político, então, elenca alguns ataques: Fort Hood, Orlando, San Bernardino. Ela não pensa duas vezes e o interrompe, de novo: “Deixe-me corrigir isso para os nossos espectadores”. E explica: o atirador de Fort Hood, Nidal Hassan, nasceu em Arlington, Virgínia, os pais dele eram palestinos; o atirador de San Bernardino, Syed Rizwan Farook, nasceu em Illinois, os pais dele eram paquistaneses; sua mulher, Tashfeen Malik, nasceu no Paquistão, viveu na Arábia Saudita, veio para os EUA; o atirador em Orlando era um estadunidense (Omar Mateen, nascido em Nova York de pais sauditas)”. Conclui seu argumento com a pergunta:

Como isso pode ser uma justificativa?

Assista a seguir.

Foto de capa: Trump exibe a ordem executiva (foto: UPI/Barcroft Media/Telegraph)

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