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Writer's pictureGabriel Toueg

Intifada II, dez anos depois


Dez anos atrás ontem, o então líder da oposição,

Ariel Sharon, braço de ferro do Likud e odiado pela esquerda e pelos palestinos, foi à Esplanada das Mesquitas, cercado por centenas de seguranças, policiais e soldados, num ato político provocativo e desnecessário. A visita foi usada pelos palestinos como pretexto para começar o que seria a onda de violência mais séria dos últimos tempos em Israel e nos territórios: a Segunda Intifada.

Hoje, dez anos depois, e com a onda de violência bastante reduzida – embora distante de um fim verdadeiro – a análise de que foi tudo orquestrado é óbvia. Na época, uma declaração de um político egípcio provou que não se passava de teatro. Os palestinos precisavam de um motivo para detonar o levante. Sharon deu a eles o motivo perfeito. Mas a intifada já estava planejada.

O Oriente Médio de dez anos atrás era diferente. Sharon, que cinco anos depois desocuparia as colônias na Faixa de Gaza e acabaria com a presença militar no território, era um político de extrema-direita. O líder dos palestinos era Yasser Arafat, o eterno presidente, que morreria quatro anos depois, criando um vácuo político existente até hoje na Autoridade Palestina. O premiê israelense era o atual ministro da Defesa Ehud Barak, dos Trabalhistas. Alguns meses antes da polêmica visita de Sharon, o então presidente americano Bill Clinton tentara fechar um acordo, que não deu em nada.

Mencionei aqui no blog há alguns dias o livro “Filho do Hamas”, escrito por Mossab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do Hamas na Cisjordânia. No livro, em que Yousef relata fatos acontecidos durante os últimos quinze anos, desde que foi preso, ele também conta como viu o início da Segunda Intifada, em setembro de 2000, quando já colaborava com o Shin Bet israelense:

Arafat e os outros líderes da ANP estavam determinados a iniciar outra intifada. Passaram meses planejando tudo aquilo, mesmo durante a conferência com Barak e o presidente Clinton em Camp David. Estavam simplesmente esperando um pretexto adequado, e a visita de Sharon acabou sendo a desculpa perfeita. Depois de dois falsos inícios, a Intifada Al-Aqsa começou para valer, os conflitos na Cisjordânia e em Gaza voltaram a pegar fogo. Principalmente em Gaza.

Os “dois falsos inícios” que Mossab menciona foram tentativas de estourar o levante dias antes – uma manifestação em Ramallah, que ele descreve como “tudo, menos um espetáculo dramático de combustão espontânea”, e a reação à visita em si, que ele relata como “um grande anticlímax”.

O levante começou de fato quando “um grande número de manifestantes palestinos atirou pedras e entrou em confronto com a polícia antimotim de Israel perto do local da visita de Sharon. Das pedras, passaram a atirar coquetéis molotov e, depois, abriram fogo com fuzis”. No confronto, “quatro palestinos foram mortos e outros 200 ficaram feridos, além de 14 policiais israelenses que também se feriram”.

A partir daquele incidente, e como tem sido visto em Israel sempre que a violência palestina aumenta, Sharon, da extrema-direita, foi eleito premiê, no começo do ano seguinte. Durante o mesmo ano, 2001, os israelenses viveram com medo: ataques terroristas aconteciam quase todas as semanas, em locais como ônibus, discotecas, shopping centers etc.


Um deles, em junho,

matou 21 jovens na entrada de uma boate, em Tel Aviv. Em agosto, um ataque na pizzaria Sbarro, em Jerusalém (foto), matou 15 pessoas, entre elas um turista brasileiro. O terror estava à solta. Quando visitei Israel pela primeira vez, em 2002, vi pessoas com medo, que só saíam de casa para o que fosse considerado totalmente necessário. De repente, restaurantes, bares e pontos turísticos ficaram vazios. O turismo sofreu uma queda drástica, e as pessoas simplesmente deixaram de visitar Israel.

Durante o período da intifada, que não é muito bem definido, mais de 1,1 mil israelenses e 3,2 mil palestinos foram mortos, a maioria civis. Hoje, dez anos mais tarde, já se fala na possibilidade de uma terceira intifada, cuja ideia parece tão assustadora como a de uma terceira guerra mundial – se o primeiro levante foi a luta de pedras contra tanques e a segunda teve terroristas suicidas, o que uma terceira revolta poderia trazer à região?

O Haaretz deste fim de semana tem textos bem interessantes sobre a intifada, entre eles “uma linha do tempo de uma guerra com fim desconhecido, se é que teve um fim“. Ainda sem um acordo com os palestinos e com uma nova tentativa de acalmar os ânimos e construir confiança, a sensação é a de que, embora a violência tenha diminuído, a guerra não acabou.

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