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Writer's pictureGabriel Toueg

Não em meu nome? Em nome de quem?

O texto abaixo é a reprodução de um desabafo que escrevi no Facebook em 31 de julho sobre um artigo que rodou a internet. Como o meu desabafo suscitou elogios, críticas e ameaças (sim, pois é), resolvi publicá-lo aqui também. A versão abaixo está editada. 


Pediram minha opinião sobre o

texto do Marcelo Gruman, antropólogo judeu que eu não conheço. Ele escreveu “Não em meu nome”, texto em que critica políticas de Israel e faz um apelo para que judeus sigam o mesmo caminho. Pois eis minha opinião.

Em grande medida, concordo com ele. Não sou a favor da ocupação e da ridícula política israelense de expansão de assentamentos na Cisjordânia (quando estava em Israel, minha primeira cobertura foi a da retirada de Gaza, em um corajoso gesto de Ariel Sharon, que eu comemorei). Acredito que isso atrasa a criação de um Estado palestino, cuja independência, no formato que for, interessa mais a Israel que aos palestinos (ou já teria sido criado, acreditem!)

Não acho que Israel seja apenas o bom mocinho dessa história e sou perfeitamente capaz de ver e reconhecer erros da política israelense, algo que a maioria das pessoas (e o Marcelo) não consegue dissociar do fato de que Israel, quer queiram os haters, quer não, continuará lá independentemente dos políticos que eleja (a maioria dos judeus, muitos amigos meus, é incapaz de aceitar críticas à política israelense e as vê como críticas ao Estado ou como antissemitismo, o que é uma bobagem).

Como o Marcelo, não acho que o judaísmo pressupõe uma relação umbilical com Israel. Talvez eu não precisasse dizer isso, mas o judaísmo é muito, muito mais antigo que o Estado de Israel e embora exista uma relação óbvia porque os acontecimentos históricos do judaísmo tiveram lugar naquela terra, o judaísmo vive bem, obrigado, sem Israel, embora os judeus, nem sempre (as ondas de migração para Israel em momentos como esse estão aí para provar). O contrário, entretanto, não é verdade: Israel não vive bem sem o judaísmo e está na hora de o Estado ser um Estado para judeus (mas não apenas para judeus) antes de tornar-se a teocracia que o termo “Estado judaico” pressupõe e que, em grande medida, já dá sinais de crescimento.

Mas o Marcelo erra a mão ao chamar a Faixa de Gaza de “campo de concentração”. Na minha opinião, por duas razões:

1. minimiza o que foi o Holocausto (que ele faz questão de grafar em caixa baixa, eu não). Eu estive em campos de concentração na Polônia e vi, 60 anos depois, o que é aquilo. Estive também na Faixa de Gaza. É um horror. Mas não é comparável. Nunca será. Quem diz que é está mal intencionado ou não conhece uma realidade ou a outra. Ponto. 2. ele não diz que Gaza só é a Gaza que é porque o Hamas, que tomou o território à força e a fogo em 2007, matando palestinos do Fatah, gasta tempo e recursos em terrorismo em vez de investir na população que o elegeu (sim, foram eleitos democraticamente em 2006). Constrói uma intrincada rede de túneis e abrigos para sua liderança em vez de erguer hospitais, escolas e abrigos para a população.

Mas entendo, também, que o Marcelo não quer entrar nos detalhes do conflito atual. No lugar dele, eu também evitaria isso. Tendo, então, a manter minha concordância geral com a linha central do texto dele. Não para denunciar, porque acho que nem ele, que visitou Israel duas vezes na adolescência, nem eu, que lá morei durante sete anos, temos capacidade para isso. Mas para simplesmente entender que as duas coisas – Israel e judaísmo – são dissociáveis.

Por outro lado, e enfim, devo discordar do Marcelo quando ele fala da agressão aos palestinos – não porque ela não existe (sei que existe e presenciei cenas mais de uma vez, às vezes dirigidas a mim pela minha aparência árabe, da qual me orgulho). Mas porque existe uma razão para isso que não é simplesmente o medo de que o Holocausto se repita. O Marcelo se esquece de dizer que Israel lida com um tipo de ideologia que valoriza a morte mais que a vida, e não sou em quem está dizendo.

E isso não é novo, não começou em 8 de julho passado nem em 27 de novembro de 1947. O radicalismo islâmico (e vemos isso em todas as partes do Oriente Médio, mas por alguma razão não dá manchetes tão gordas ou fotos tão boas como Gaza) faz vítimas a rodo em nome de uma interpretação extremista da religião. Esquecer isso é simplificar um conflito que nada tem de simples. (Foto: Mohammed Salem/Reuters)

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