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Não sou você, você não é eu: sobre radicalismos e moderação

  • Writer: Gabriel Toueg
    Gabriel Toueg
  • Nov 11, 2023
  • 2 min read

Texto editado e ampliado a partir de versão publicada originalmente no LinkedIn


Acordei hoje com mensagem no WhatsApp de uma professora palestina brasileira se recusando a me conceder entrevista. Em resposta ao meu pedido, de alguns dias atrás, ela enviou imagens de crianças feridas. Eram crianças palestinas, mas poderiam ser crianças brasileiras mortas por "balas perdidas" ou crianças judicas massacradas pelo Hamas.


Dias atrás, me deparei com um comentário raivoso. O sujeito dizia ter vontade de vomitar ao ver uma imagem que eu havia compartilhado. A imagem tinha, de um lado, civis palestinos com um cartaz com os dizeres "Não somos o Hamas"; de outro, civis israelenses, cartaz com os dizeres "Não somos Netanyahu".



O comentário do sujeito, que eu não conheço, estava cheio de ódio. Me chamou de idiota e disse que eu deveria chorar e vomitar. Sugeriu que eu deveria retirar a imagem do ar, o que eu não fiz, claro. Aparentemente, ele é apenas incapaz de enxergar a dor do outro lado. Mais: para ele, criticar Netanyahu é criticar Israel porque ele "foi eleito democraticamente e representa Israel". Bom, não é bem assim.


O atual capítulo do conflito no Oriente Médio está me ensinando (de novo) uma dura realidade. Não importa quão moderados sejamos ou tentemos ser, não importa que, como jornalistas, tentemos dar voz a todos os lados, mesmo àqueles com quem nem sempre concordamos como seres humanos, não importa nada além da etiqueta, da “gaveta” em que alguém nos colocou. Eu estou numa gaveta da qual não consigo sair, e isso simplesmente não reflete a realidade.


Sou tão crítico a ambos os lados como sou empático ao sofrimento dos dois lados. Sou tão capaz de enxergar o radicalismo fundamentalista teocrático de um lado quanto o fascismo político de outro lado. Sou capaz de enxergar o melhor nas pessoas quando há algo bom para ser visto — não é o caso do terrorismo nem da morte desenfreada de milhares de pessoas. Eu sou brasileiro e isso sempre abriu portas e sorrisos por onde andei. Hoje, contudo, parece que absolutamente nada disso importa.


Quem tem me acompanhado já faz algum tempo tem visto meus esforços pela moderação, pela compreensão mútua, por uma realidade mais condizente com o conceito de humanidade. Mas já não acredito que sou (somos, os moderados) capaz/es de mudar qualquer coisa. Ganharão os radicais, vencerão os extremos, falarão mais alto as vozes que gritam o ódio e não as que pedem a paz quase sussurrando.


Hoje sou só lamento.


Um update merecido: a professora que se recusara a conversar comigo afinal o fez. Tivemos uma muito honesta conversa. O fato de sermos de povos diferentes (embora irmãos) e de por vezes pensarmos diferente não deixou que sentíssemos, ela e eu, a dor de um e de outro lados — com solidariedade verdadeira. Não há vidas mais valiosas que outras vidas. Sobre o cara do comentário, ficou por aquilo mesmo.

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