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Writer's pictureGabriel Toueg

Os filhos (árabes) dos outros


O assunto gerou pouca repercussão no mundo, mas foi bastante destacado por aqui. Durante a

Operação Chumbo Derretido, a guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, dois soldados de uma unidade de elite, Golani, usaram um garoto palestino de nove anos como escudo humano.

A história é a seguinte: no meio dos confrontos, em Gaza, eles teriam mandado o garoto abrir sacolas em que suspeitavam haver bombas. Preferiram arriscar a vida de uma criança a abrir as sacolas eles mesmos. Não havia bomba nenhuma nas sacolas. Mas por conta da atitude, os soldados foram condenados por uma corte militar em Israel.

Mais do que o incidente em si, o debate gerado em seguida na sociedade é de assustar. Na corte que condenou os Golani, amigos dos soldados – e eles mesmos – usavam camisetas com os dizeres “Somos vítimas de Goldstone”, em referência ao jurista da ONU (na foto) que investigou o papel do Exército israelense na operação em Gaza e acusou o país de crimes de guerra.

Ouvi ontem, na Galei Tzahal, rádio oficial do Exército, duas mães de soldados mortos na Segunda Guerra do Líbano. Uma delas, feroz, dizia que o filho dela faria a mesma coisa se estivesse no lugar dos Golani, em Gaza. Mais: com todo o apoio dela. “Estamos lidando com terroristas, filhos e netos de terroristas”, dizia.

A outra, contudo, mais calma, dizia que o filho dela, ao contrário, teria feito de tudo para recusar as ordens de usar o garoto e colocá-lo em perigo. “Meu filho tinha valores e não arriscaria a vida de uma criança”, contou. O debate é desnecssário, baseado em “ses”. Mesmo assim, assusta.

No dia anterior, quando a notícia foi divulgada, um soldado de alta patente entrevistado também na Galei Tzahal disse ao vivo que faria exatamente como os Golani, levando a apresentadora a gaguejar, incrédula, e a voltar a perguntar algumas vezes se era aquilo mesmo.

Só consigo, agora, me lembrar de uma frase, atribuída à ex-premiê Golda Meir, quando falava sobre a dificuldade de construir confiança e paz com os árabes, que mandam os filhos para a guerra. Faço questão de citar a frase dela. Pena ela não servir nas duas direções.

A paz virá apenas quando os árabes conseguirem amar os próprios filhos mais do que eles nos odeiam

(UPDATE) Ainda na onda de abusos e excessos de militares israelenses, um vídeo que está sendo muito comentado e criticado, também aqui em Israel, mostra um soldado dançando ao redor de uma palestina vendada e amarrada, no mesmo estilo das fotos divulgadas no Facebook pela ex-soldada Eden Abergil em agosto.

Embora esta não seja a prática padrão de soldados israelenses, cenas assim estão se fazendo mais comuns e conhecidas, graças às redes sociais e à falta de bom senso de alguns soldados – que não apenas abusam ao humilhar palestinos amarrados e vendados, como também erram ao publicar fotos e vídeos.

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