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Writer's pictureGabriel Toueg

Sobre tratores, prazos e festas


Hoje poderia ter sido o dia em que tudo poderia começar a ser diferente no Oriente Médio. Dentro de

cerca de três horas acaba o período de dez meses de congelamento de construções em assentamentos judaicos na Cisjordânia. Se o congelamento fosse renovado – o que não vai acontecer – as negociações teriam mais chances de, ao menos, seguir com algum entusiasmo.

Não sou ingênuo para achar que esse gesto de Israel poderia salvar as negociações e resultar em um acordo de paz com os palestinos. A história tem mostrado que, como já disse o diplomata israelense Abba Eban, “os árabes nunca perdem uma oportunidade de perder uma oportunidade”. Foi assim quando o então premiê Barak ofereceu a Arafat 97% da Cisjordânia, Jerusalém dividida e o palestino recusou.

Desta vez, contudo, a oportunidade de fazer a diferença estava nas mãos de Bibi. O premiê poderia ter se mantido firme no propósito de proibir a expansão desenfreada de assentamentos em território no qual o futuro Estado palestino será erguido – queiram os colonos ou não. Ele poderia, ao se distanciar da extrema direita, decidir que não se dobraria.

Mas isso seria um suicídio político: com a coalizão dependente de partidos de extrema direita, como Israel Beiteinu, Netanyahu prefere não assumir o risco de ver seu governo desabar. Prefere comprar uma briga com os americanos e ameaçar as negociações do que dar o braço a torcer. De uma forma, tendo a entender a importância da atitude: se a coalizão caísse, um novo governo poderia ser ainda mais de extrema direita.

Imagens Embora Bibi tenha decidido que não renovará o congelamento, pediu que os colonos não façam comemorações muito barulhentas. Não adiantou. Milhares deles saíram às ruas para comemorar os tratores. Só uma imagem me vem à mente ao ver a festa e ouvir as declarações: a de palestinos distribuindo doces e disparando para o alto depois de um ataque terrorista suicida qualquer.

Com as festas e os tratores vem a tensão nos assentamentos. Enquanto os colonos retomam a construção de casas, escolas e seja-lá-o-que-for, o sentimento é de medo, ceticismo e tensão. Sim, colonos israelenses também podem ser violentos, e a tendência é que fiquem mais violentos enquanto os líderes estendem as mãos aos palestinos. De novo, a imagem da violência palestina crescente enquanto os líderes deles sentam e negociam com os israelenses.

Abbas Se entendo a atitude de Netanyahu, custo a entender a do presidente Abbas ao dizer que tudo bem, continuem construindo, não vamos interromper as negociações. Confesso que esperava que ele levantasse, batesse com força na mesa e dissesse aos israelenses: “Se vocês não podem fazer o mínimo gesto, estou fora”.

Mas Abbas está tão enfraquecido na rua palestina que preferiu aceitar mais essa infração do governo israelense – ele precisa conseguir alguma coisa, afinal. Depois de dizer “paz ou assentamentos“, Abbas voltou atrás, apesar do apoio da comunidade internacional, apesar de ter a vantagem da condição nas mãos e apesar de ter apoio até mesmo entre israelenses.

Tudo fica igual, então. A partir de amanhã as construções serão retomadas, a tensão já está alta (com ameaças e violência dos dois lados) e as negociações continuam. Resta saber qual vai ser o próximo obstáculo às negociações.

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